Ontem, caíram as primeiras gotinhas de chuva em Santiago.
Para nós cabo-verdianos, a chuva é sempre amiga e é recebida com alegria e esperança. Esperança que chova mais para que o ano agrícola possa ser bom, esperança que chova em todas as ilhas para que todos possam beneficiar, esperança que chova bem, mas que não chova de forma torrencial para que não hajam calamidades.
Em Cabo Verde, aprendemos desde muito novos a dar importância à água, atrevo-me a dizer que é a primeira lição de ecologia que aprendemos.
Eu, até hoje, tenho um certo prazer ao ver chover e ao sentir o cheiro de terra húmida.
Quando chove, sou quase sempre invadido por uma certa nostalgia. Ao ver as ruas molhadas, as pessoas a correr de um lado para o outro para se abrigarem, a água a cair dos algerozes, as poças, tudo isto me faz recordar a minha infância no plateau.
Deixo aqui um poema muito bonito da autoria de Amilcar Cabral, que claro está, fala da chuva.
REGRESSO
Mamãe Velha, venha ouvir comigo
O bater da chuva lá no seu portão.
É um bater de amigo
Que vibra dentro do meu coração
A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,
Que há tanto tempo não batia assim...
Ouvi dizer que a Cidade-Velha
– a ilha toda –
Em poucos dias já virou jardim...
Dizem que o campo se cobriu de verde
Da cor mais bela porque é a cor da esperança
Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.
– É a tempestade que virou bonança...
Venha comigo, Mamãe Velha, venha
Recobre a força e chegue-se ao portão
A chuva amiga já falou mantenha
E bate dentro do meu coração!